
Em uma decisão inédita e de grande repercussão, a Justiça do Trabalho determinou que o Facebook e o Instagram — ambas plataformas pertencentes à Meta — estão proibidos de permitir ou tolerar o trabalho de crianças e adolescentes como influenciadores digitais sem autorização judicial prévia. A medida, concedida em caráter liminar pela 7ª Vara do Trabalho de São Paulo, atende a uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e estabelece multa diária de R$ 50 mil por menor encontrado em situação irregular nas redes sociais.
A decisão reacende o debate sobre os limites da atuação infantil na internet, especialmente em um cenário onde a monetização de conteúdo se tornou uma fonte de renda para milhares de famílias. A exposição precoce de crianças em ambientes digitais, sem regulamentação adequada, levanta preocupações sobre saúde mental, segurança, educação e direitos fundamentais.
- IBGE Abrirá 9.580 Vagas Temporárias para Agentes de Pesquisa e Supervisores em Todo o Brasil
- Forbes The Founders 2025: Os Empreendedores que Fazem a Diferença
O que motivou a decisão judicial
A ação civil pública foi protocolada após o MPT reunir evidências de que crianças e adolescentes estavam atuando comercialmente nas plataformas da Meta sem qualquer tipo de alvará judicial — exigência prevista no artigo 149 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O inquérito civil anexado ao processo revelou que a própria empresa reconheceu não cumprir essa exigência legal.
A juíza Juliana Petenate Salles, responsável pela liminar, destacou que “manter crianças e adolescentes expostos na internet para fins de lucro, sem devida avaliação das condições em que ocorre o trabalho artístico e sem autorização da Justiça, gera riscos sérios e imediatos”. Entre os prejuízos citados estão:
- Pressão psicológica para produção constante de conteúdo
- Exposição a ataques virtuais e danos à autoestima
- Prejuízos educacionais e sociais
- Privação de atividades típicas da infância
- Risco de uso indevido e permanente da imagem infantil

O conceito de “adultização” e os riscos da influência precoce
O termo “adultização” tem sido usado por especialistas para descrever o fenômeno em que crianças são submetidas a comportamentos, responsabilidades e ambientes que aceleram seu desenvolvimento emocional e social de forma prejudicial. No contexto digital, isso inclui a pressão por engajamento, a busca por likes e seguidores, e a exposição a temas e interações que não condizem com a fase da infância.
A decisão judicial reforça que o trabalho infantil artístico, mesmo em ambiente virtual, deve ser tratado com o mesmo rigor legal que qualquer outra atividade profissional. A participação de menores em conteúdos pagos, campanhas publicitárias ou ações de marketing exige autorização judicial e acompanhamento técnico para garantir que não haja violação de direitos.
A repercussão do caso e o papel da Meta
A Meta, empresa responsável pelo Facebook e Instagram, foi intimada a cumprir a decisão em até cinco dias úteis após a notificação. Caso descumpra a ordem, estará sujeita à multa de R$ 50 mil por criança ou adolescente em situação irregular. Até o momento, a empresa não se manifestou publicamente sobre o caso.
Além da proibição, o MPT solicita que a Meta seja condenada ao pagamento de R$ 50 milhões em danos morais coletivos e que implemente medidas de prevenção e controle em suas plataformas. Entre as sugestões estão:
- Filtros automáticos para identificar conteúdo com participação de menores
- Sistemas que exijam alvará judicial para monetização de perfis infantis
- Monitoramento ativo de contas suspeitas
- Campanhas educativas sobre os riscos da exposição infantil na internet
Influenciadores mirins e monetização: onde está o limite?
Nos últimos anos, o número de crianças influenciadoras cresceu exponencialmente. Perfis com milhões de seguidores, contratos publicitários e presença constante em eventos digitais tornaram-se comuns. No entanto, essa ascensão não foi acompanhada por regulamentações específicas, deixando brechas para exploração e negligência.
A monetização de conteúdo infantil, embora legal quando autorizada, exige cuidados especiais. Crianças não têm maturidade para compreender os impactos da exposição pública, nem para lidar com críticas, rejeição ou assédio virtual. Além disso, o envolvimento precoce com o trabalho pode comprometer o desenvolvimento escolar e social.
O papel dos pais e responsáveis
A decisão da Justiça também lança luz sobre a responsabilidade dos pais e responsáveis legais. Embora muitos atuem com boas intenções, é fundamental que estejam cientes dos riscos e das exigências legais. A autorização judicial não é apenas uma formalidade — ela garante que o trabalho artístico infantil seja acompanhado por profissionais capacitados e que respeite os limites da infância.
Especialistas recomendam que os pais busquem orientação jurídica antes de permitir que seus filhos atuem como influenciadores. Além disso, é importante estabelecer limites claros de tempo, conteúdo e exposição, sempre priorizando o bem-estar da criança.
O que muda com a decisão
A liminar representa um marco na regulamentação do trabalho infantil digital no Brasil. Embora ainda caiba recurso, ela estabelece um precedente importante para outras plataformas e para o mercado de influência como um todo. A partir de agora, empresas que lucram com conteúdo infantil terão que adotar medidas concretas para garantir conformidade com a legislação.
Para os influenciadores mirins e suas famílias, a decisão reforça a necessidade de profissionalização e responsabilidade. A atuação artística de crianças continua permitida, mas deve ocorrer com proteção legal e acompanhamento técnico.
A proibição do trabalho de crianças influencers sem autorização judicial nas plataformas da Meta é um passo importante na defesa dos direitos da infância no ambiente digital. Em um cenário onde a exposição online se tornou parte da rotina de milhões de brasileiros, garantir que essa participação ocorra de forma segura, legal e responsável é essencial.
A decisão da Justiça não busca impedir a expressão artística infantil, mas sim assegurar que ela aconteça com o devido cuidado. O debate sobre o papel das redes sociais, da monetização e da proteção infantil está apenas começando — e exige atenção de todos os envolvidos: empresas, famílias, autoridades e sociedade.