
A Cosan (CSAN3), uma das maiores holdings de infraestrutura e energia do Brasil, registrou no segundo trimestre de 2025 um prejuízo líquido de R$ 946 milhões — quase quatro vezes o resultado negativo de R$ 227 milhões apurado em igual período de 2024. O desempenho veio pressionado principalmente pela controlada Raízen (RAIZ4), que teve impactos tributários e endividamento elevado, e pelo reconhecimento de créditos fiscais e desinvestimentos em participações estratégicas. Apesar do EBITDA ajustado ter avançado 19% na comparação anual, a alta alavancagem e as despesas financeiras ampliadas contribuíram para o resultado desfavorável.
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Desempenho Financeiro do 2T25
Prejuízo Líquido e Receita Consolidada
No 2T25, a Cosan reportou prejuízo líquido de R$ 946 milhões, comparado a perdas de R$ 227 milhões um ano antes, um aumento de 316,7% na base anual. A receita líquida consolidada somou R$ 10,4 bilhões, queda de 2% em relação ao 2T24, reflexo da menor venda de combustíveis e açúcar pela Raízen, além do efeito cambial sobre exportações e fretes internacionais.
EBITDA Ajustado em Alta, Mas Lucro Operacional Prejudicado
O EBITDA ajustado da Cosan alcançou R$ 2,83 bilhões, 19% superior ao 2T24, impactado positivamente pelo reconhecimento de indenização de R$ 444 milhões pela subsidiária Moove, em função do sinistro na planta do Rio de Janeiro, e pela elevação do volume transportado pela Rumo Brasil Railways. Sem esses eventos extraordinários, o EBITDA ajustado recuaria, evidenciando fragilidade operacional do negócio de lubrificantes e açúcar.
Resultado Financeiro e Despesas Administrativas
O resultado financeiro ficou negativo em R$ 657 milhões, ante despesa de R$ 1,5 bilhão no mesmo trimestre de 2024 — uma melhora de R$ 860 milhões, influenciada pela redução do custo da dívida bruta em R$ 622 milhões e por variação cambial favorável. As despesas gerais e administrativas somaram R$ 78 milhões, R$ 34 milhões a menos do que no 2T24, principalmente pela diminuição do programa de remuneração de longo prazo para executivos.
O Impacto da Raízen no Resultado da Cosan

Equivalência Patrimonial e Reconhecimento de Créditos Tributários
A equivalência patrimonial da Cosan ficou negativa em R$ 173 milhões, contra resultado positivo de R$ 1,3 bilhão no mesmo trimestre de 2024, devido ao reconhecimento tardio de créditos tributários de PIS/COFINS pela Raízen e à venda de participação na Vale. Em 2024, esses créditos haviam impulsionado o lucro do grupo, criando um efeito comparativo desfavorável ao 2T25.
Pressão sobre a Alavancagem pela Raízen
A Raízen segue em toada de pressões financeiras. Após divulgar balanço, suas ações caíram cerca de 12,5% em um único pregão, com analistas destacando o elevado nível de endividamento da companhia. A alavancagem da Raízen alcançou 4,5 vezes a relação dívida líquida/Ebitda, mais que o dobro do patamar de um ano antes, pressionando o resultado consolidado da Cosan e sua estrutura de capital.
Endividamento e Alavancagem
Evolução da Dívida Líquida Consolidada
Em 30 de junho de 2025, a dívida líquida da Cosan corporativa somava R$ 17,5 bilhões, redução de 18,7% em relação aos R$ 21,5 bilhões registrados no 2T24. Contudo, quando consideradas as operações das controladas (50% da Raízen e sem passivos de arrendamentos), a dívida líquida pró-forma atingiu R$ 68,5 bilhões, 22% acima de junho de 2024.
Estrutura da Alavancagem Ajustada Pró-Forma
O Itaú BBA apontou que a alavancagem ajustada pró-forma da Cosan encerrou o 2T25 em 3,4 vezes, ante 2,8 vezes no 1T25 e no 2T24. O aumento foi consequência do maior endividamento consolidado, aliado à retração do Ebitda recorrente, que caiu 31% em doze meses no período.
Medidas de Liability Management e Redução do Custo da Dívida
Para mitigar o custo do endividamento, a Cosan realizou ações de liability management, refinanciando dívidas em condições mais favoráveis. No 2T25, o custo da dívida bruta foi de R$ 580 milhões, R$ 622 milhões a menos do que um ano antes, impactado por recompra de títulos e alongamento de vencimentos.
Reações do Mercado e Avaliação dos Analistas
Queda nas Ações da Raízen e Cosan
Após a divulgação dos resultados, as ações da Raízen sofreram forte queda e refletiram nas cotações da Cosan, que chegou a operar em limite de oscilação máxima em sessões de 15 de agosto. Apesar disso, o papel consolidou alta ao longo do pregão, conforme operadoras veem as ações da holding como oportunidade de valorização em meio à correção excessiva do mercado.
Análise do Itaú BBA e Outros Bancos
O time do Itaú BBA, liderado por Monique Natal, ressaltou que o prejuízo quadruplicado destaca a necessidade de monitoramento da alavancagem e de reforço na geração de caixa operacional. Já analistas da XP consideraram que o balanço foi “salvo” pelo reconhecimento extraordinário da indenização da Moove, alertando para fragilidades no segmento de lubrificantes e na operacionalização da Raízen.
Estratégias de Mitigação e Perspectivas Futuras
Venda de Ativos e Busca por Sócio Estratégico
Durante teleconferência, executivos da Cosan reiteraram a busca por um sócio estratégico para a Raízen, além da possível venda de ativos não essenciais. No primeiro semestre de 2025, a holding vendeu as unidades Leme e MB e hibernou a usina Santa Elisa, em linha com a estratégia de desalavancagem.
Foco em Desinvestimentos na Raízen
Para diminuir a pressão sobre resultados, a Raízen avalia a desmobilização de ativos com retorno de curto prazo, como terminais e usinas menores. A empresa também estuda parcerias para reforçar o capital de giro e melhorar a gestão de estoques de combustíveis.
Recuperação Operacional e Redução de Custos
No médio prazo, a Cosan pretende fortalecer a performance de suas controladas, investindo em eficiência operacional — como digitalização de processos na Rumo e otimização logística na Moove — e reequilibrando portfólio entre açúcar, etanol, energia e logística.
Considerações para Investidores
Avaliando Riscos e Oportunidades
O expressivo prejuízo e a alta alavancagem aumentam o risco de crédito, mas também podem criar janelas de compra para investidores de valor, caso a empresa cumpra sua estratégia de desalavancagem e retome crescimento de EBITDA.
Importância do Monitoramento da Alavancagem
Manter a alavancagem abaixo de 3 vezes dívida/Ebitda é um indicador de saúde financeira. Qualquer oscilação brusca no Ebitda, especialmente por eventos não recorrentes, deve ser analisada com cautela por quem acompanha CSAN3.
Perspectiva de Longo Prazo para Cosan
Além de desafios de curto prazo, a Cosan detém ativos estratégicos em setores fundamentais da economia brasileira, como combustíveis renováveis, logística ferroviária e distribuição de energia. A consolidação de parcerias e o fortalecimento de governança podem pavimentar um ciclo de recuperação de lucratividade e geração de valor.
A Cosan viu seu prejuízo quadruplicar no 2T25, somando R$ 946 milhões, com forte contribuição negativa da Raízen e impacto de eventos pontuais como créditos tributários e desinvestimentos em Vale. Apesar do EBITDA ajustado ter crescido 19%, a combinação de alavancagem elevada e despesas financeiras comprometeu o resultado.
Analistas do Itaú BBA e da XP destacam a necessidade de desalavancagem, venda de ativos e busca por sócio estratégico para a Raízen. A reação do mercado, embora negativa no curto prazo, aponta para potencial de recuperação, caso a holding execute com sucesso seu plano de redução de dívida e fortaleça a geração de caixa operacional.
Para investidores, o cenário exige atenção aos indicadores de dívida e EBITDA, bem como ao progresso das medidas de liability management. No longo prazo, a diversificação de negócios da Cosan e sua presença em setores essenciais mantêm a companhia no radar de quem busca exposição a ativos brasileiros de infraestrutura e energia.